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quinta-feira, 10 de outubro de 2019

Não Pare no Veganismo! Zine/informativo

      nao pare no veganismo
     O veganismo, enquanto ideologia libertária e emancipatória, coloca a questão da libertação animal com o fim da exploração, escravidão, morte e apropriação dos animais, de seus corpos e de suas vidas.

      Porém, como levar essa ideologia sem lutar pela emancipação humana? Seria verdadeira e válida uma empatia por animais deixando de lado o respeito pelas pessoas? Não porque os humanos e suas causas são “superiores”às dos animais, mas simplesmente porque aquele que não enxerga a necessidade de reforçar a luta contra todos os tipos de opressão e seleciona sua empatia não tem uma
vontade real de enfrentar essa opressão. Ou seja, no caso do veganismo, não há como ser abolicionista sem, no mínimo, interseccionar com outras lutas, aquelas pela emancipação
das minorias e dos grupos historicamente marginalizados e privados de direitos.

     O “ativista” vegano que não enxerga essa conexão pode sentir, no máximo, pena, dó, simpatia pelos animais, e não ter um verdadeiro olhar profundo e crítico sobre o que leva a humanidade a apropriar-se de tal maneira dos animais. Muitos não querem enxergar questões cruciais nessa luta como a mercantilização e banalização dos corpos e da vida, a sociedade de consumo, o modo de produção... Pelo contrário, acabam reforçando tudo isso, restringindo seu
veganismo apenas à alimentação e fazendo isso de maneira extremamente elitista e consumista, movimentando mercados de industrializados, da soja (apesar de quase insignificante essa quantidade de soja perto daquela consumida pela indústria da carne, porém é uma crítica), de produtos que
poucos têm acesso, tanto pelo preço elevado quando pela dificuldade de encontrar. O que há de libertário nisso?

     Sim, é totalmente válido na questão de mostrar respeito à vida dos animais, porém colocar-se como militante de uma causa sem analisar profundamente esses fatores é problemático. Será que basta apenas mostrar que boicota os produtos que contém os derivados dos animais e que não os
coloca em seu corpo, porém reforçar tantas indústrias, mercados e, principalmente, ideologias que vão contra a construção de uma sociedade emancipada?
   
     Quanto à questão do consumo das indústrias, uma coisa precisa ser esclarecida dentro dessa crítica: não tem como sugerir que simplesmente boicotemos tudo, afinal, estamos sujeitos a um
modo de produção, a uma lógica de mercado, e não cabe cobrar de todos que vivam às margens desse sistema. Sim, é possível reciclar de feiras, fazer hortas urbanas, comprar direto com
produtores e outras formas mais interessantes de consumo ou reaproveitamento, porém dentro da realidade dos trabalhadores nem todos têm tempo e informação pra isso, mesmo aqueles que
desejam seguir uma ideologia. Ser militante não é se abster de tudo e ter uma vida totalmente alternativa porque isso está simplesmente fora de questão se é necessário realizar atividades rotineiras
como trabalho e estudo. Portanto, a crítica sobre o consumo é àqueles que restringem seu veganismo a produtos alimentícios caros, importados e inacessíveis, e só fazem isso.
   
     E sobre a questão ideológica, uma grande problemática é a reprodução de outras formas de opressão por aqueles que se dizem dentro de uma ideologia libertária.

     Racismo, machismo e elitismo são inaceitáveis em qualquer lugar, e principalmente dentro de espaços que deviam ser de luta contra sistemas de dominação.
Impossível conciliar veganismo com qualquer preconceito.
E não basta achar que “não sou preconceituoso”, é necessário realmente colocar-se em um lugar de luta e de empatia de verdade, mesmo apenas ouvindo a vivência de
grupos oprimidos, principalmente para aqueles que carregam privilégios dentro dessa sociedade.

     Por isso, não pare no veganismo!
     Um veganismo sem aliar-se às outras lutas é vazio, elitista, sem propósito. Boicotar para mostrar posição é válido, é necessário, mas não se chega a lugar nenhum e não se constrói nenhuma nova concepção de sociedade assim.

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