A mesma
prática de revisionismo
tem sido utilizada quando
o assunto é
o surgimento do Oi!
no início dos
anos 80. É
comum encontrar em textos na
internet a história de que no final
dos anos 70
o punk foi
ganhando
uma cara cada vez mais vendável e uma
parte do movimento
seguiu para um lado
mais comercial, dando
origem ao póspunk,
new wave, etc.
Em contraposição a isso
teriam surgido punks
mais “crus” e
agressivos,
rueiros e suburbanos, que teriam dado origem ao Oi!/Street Punk. A conclusão desta história que é comumente
contada é a de que a
verdadeira expressão punk
não comercial da época seria o Oi! e a cena que
se
formou em torno dele, com forte presença
de skinheads. Mais uma vez uma
história de
mão
única.
De
fato os skinheads, que até o momento se encontravam em um período de
decadência, apoiaram-se na
explosão do punk
para ressurgirem novamente, porém colocando-se como continuadores
do punk “das
ruas”, através do Oi!, em uma
história que com o advento
da internet se tornou cada vez mais popular.
Quando o punk passa
a ser apropriado
e cooptado pela mídia,
indústria musical e da moda, parte
da movimentação punk vai adentrando um
caminho de produção
marginal e fora
das grandes gravadoras
e
imprensa
musical, e se tornam escassas as informações
a respeito nestes
grandes meios para
aquel@s que não
estão próxim@s destas movimentações. Muito longe de acabarem, seguiram cada vez
mais para as propostas
de faça-você-mesm@ e lutas libertárias. Assim, se por um lado
havia street punks junto
a skinheads no
Oi!, por outro
havia uma crescente cena Peace-punk que criava suas próprias publicações,
zines, gravadoras/selos e produções diversas,
se envolvendo em manifestações e movimentos sociais de forma cada vez
mais politizada e libertária.
De peace-punks surgiram diversos questionamentos quanto
aos valores envolvidos no Oi! e
nestes skinheads, que para
além de toda
a cultura de
briga e virilidade masculina
que frequentemente destruía
as gigs e
eventos, tinham um
forte discurso de culto
as tradições, machismo
e orgulho à posição de operário, enquanto @s peace-punks defendiam
a destruição das classes, questionando este orgulho de
serem explorad@s. São
exatamente estes valores que
vemos prevalecer até
os dias de
hoje nas músicas e práticas de
grupos que se reivindicam como Oi!,
e que para
nós nada tem a
ver com o
punk enquanto expressão contra-cultural.


2 bandas da finlândia uma dos 90's e outra dos 80's, pra quem diz que na europa é diferente
O
Oi!, inicialmente apenas uma gíria cockney com
significado de saudação,
foi o nome dado pelo jornalista Gary Bushell, a
partir de uma música da
banda Cockney Rejects. Bushell odiava
a cena Peace-punk
que se desenvolvia na
época em torno
de perspectivas anarquistas, igualdade
entre gêneros, anti-racismo e
intenso questionamento
político e social.
@s chamava pejorativamente de
“hippies anarquistas”, e utilizava-se
da revista “Sounds” para
atacar constantemente as atividades
do Crass e
da Dial House, comunidade onde
viviam. No entanto,
algumas “ofertas”
vieram da cena
Oi!, que não tiveram
sucesso: Jimmy Pursey,
da Sham 69, tentou formalizar um contrato com a banda
Crass, informando que
poderia incluí-los no “Pacote
de Pursey” e
fazer o “marketing da revolução”,
dizendo que nunca conseguiriam sem ele.
A proposta foi negada,
mas esse fato
denuncia ainda a
forma como os “expoentes”
da cena Oi! tratavam tudo isso.
Foi através
da mesma revista
Sounds, em 1980, que Bushell deu
nome ao que seria o Oi!. Ali escreveu
uma série de
conceitos sobre um “novo”
punk, e apontava
várias bandas como representantes desse
“novo espírito”. Também lançou
diversas coletâneas Oi! dos anos 80, com bandas queno geral
falavam sobre violência para
passar
o dia,
esmagar nariz de
hippies,hooliganismo, culto aos
músculos e orgulho operário, como a Last
Resort, que em uma
de suas
músicas fala: "Eu
estava andando pelas ruas
com meus amigos,
procurando um pouco de violência para passar o tempo,nós encontramos
esse hippie idiota
e ele tentou fugir,
mas eu o
soquei no nariz
só para passar o dia..." Falando
sobre o Oi!
na revista Sounds, Bushell define:
"A
mentalidade é essencialmente masculina, apesar de
algumas garotas estarem envolvidas. É
basicamente o que
John McVicar chamou de machismo...O machismo definido corretamente
é algo sobre
honra, lealdade, força e resistência...O tipo de idéia que me
atinge como um
ideal muito mais preferível ao
bunda-mole introspectivo
defendido
pelos hippies" Outra citação sobre o Oi! é também bastante esclarecedora
sobre qual sua mentalidade:
“Oi! é
rock´n´roll, cerveja, sexo,
frequentar gigs, tirar
um sarro, puxar
briga. É a
nossa vida, nosso show,
nosso mundo, nossa filosofia”. (Garry Johnson, poeta e
Oi!)
Com o passar
do tempo as gigs de bandas Oi! foram
se tornando com
cada vez mais frequência palco
para as brigas
e demonstrações de força
protagonizadas pelos skinheads, tornando
a existência de muitas
delas quase insustentável. O skinhead
George Marshall relata
este
momento, em
situações onde podemos
perceber que o
punk também vai se
tornando alvo da
violência intolerante dos skinheads,
e que podem ser encontradas em inúmeros outros relatos: “Na hora de acusar,
todos os dedos apontavam
na direção do skinhead,
não sem motivo.
Em se tratando de violência nas gigs de punks, eram
sempre os skins que
começavam a treta,
e, se não começavam, acabavam. Isso não quer dizer
que todos
os skins estivessem
a fim de detonar
a música pela
qual haviam pago ingresso
para curtir, mas
era um problema crônico que
se tornava insustentável. Sempre
havia um suposto
skin partindo pra ignorância se o vizinho não tivesse o
mesmo coturno, suspensório, cor
ou distintivo na roupa. De repente, virou passatempo
praticar a malhação do
punk (...)” “Um
ou outro quebra pau
poderia ter sido
controlado ou contornado. Mas a
violência orquestrada em nome da política era algo bem mais sério. A questão é
que grande parte
dos skinheads
que curtiam
o som da
Sham e de outras
bandas Oi! apoiava
o National Front
e o British Movement,
duas organizações de extrema-direita cuja
militância já tinha crescido bastante àquela época.”Em um
artigo sobre a
relação entre a cena
skinhead e a música de
caráter nazista, o historiador
Thimothy Brown fala
sobre as
relações
que o surgimento do Oi! possibilitou dentro
da cena skinhead
para o surgimento de
um estilo musical
de extrema direita, citando alguns
acontecimentos relevantes para
entendermos este momento:“Um evento chave
para estabelecer a notoriedade
da cena skinhead,
e que representou a
articulação simbólica entre
o
gênero musical
e subcultura, violência
e racismo, é a
tão falada “Southhall
riot”, de julho de 1981. A
revolta aconteceu em uma gig na Hambrough
Tavern, na predominantemente asiática
Southhall, subúrbio oeste de
Londres. Southall era a principal área
de imigração asiática
e também um forte
alvo das provocações
da
National
Front.
Southall havia sido anteriormente (abril de 1979) palco para
dias de confrontos entre
a polícia e
a juventude asiática após o
ativista
anti-racista Blair Peach ter sido assassinado
durante uma manifestação contra
uma marcha da National
Front. O alegado
fracasso das autoridades para
investigar adequadamente o assassinato de
Peach deixou um
legado de indignação que
foi exacerbado pelos
frequentes incidentes
de “Paki-bashing.”
Com apresentações
de três conhecidas bandas Oi!, The Business, The Last
Resort e The 4 Skins,
a gig foi
vista como a gota
d´água pelos jovens
asiáticos locais, que acabaram com a apresentação queimando o lugar.
Um grande
número de skinheads
foi preso na confusão
que se seguiu,
e a imprensa se
mexeu rapidamente para estigmatizar toda
a cena skinhead
como baluarte da extrema
direita, apesar do
fato da National Front
não ter nenhum envolvimento direto com a gig. O
“pânico moral” resultante foi impulsionado pelo receio público sobre o segundo
de dois álbuns de coletânea
Oi! lançados pela revista
Sounds sob o
estímulo do jornalista Gary Bushell.
O primeiro, Oi!
The Album, ajudou a lançar
o movimento Oi! em
novembro de 1980.
O segundo álbum, lançado apenas
alguns meses depois da revolta
de Southhall, tinha como
título o trocadilho infeliz Strength Through
Oi! (uma brincadeira com o nome
da organização da era-Nazi
“Strength Through Joy”). O álbum
também destaca em sua
capa uma fotografia de
Nicky Crane, um conhecido skinhead que
também foi organizador do
British
Movement
em Kent. O álbum
não foi financiado pela extrema direita, nem as bandas ali representadas eram necessariamente de direita,
mas as conotações
direitistas do título e
arte da capa,
levadas em conjunto
com a
violência em Southhall
e os resultantes acusações de
fascismo skinhead na imprensa, solidificaram
a reputação de direita da cena skinhead e da música Oi!. Ao prever,
pela primeira vez,
um foco musical para o skinhead que era “branco” –isto é, não tinha nada a ver com a presença de imigração caribenha
e mínima conexão com
as raízes musicais
negras – o Oi! concedeu um
foco musical para
novas visões da identidade
skinhead. (...) Conferindo
uma expressão musical
à identidade skinhead que era exclusivamente branca (e,
diferente do punk
e ska, quase exclusivamente masculina),
e em primeiro plano a violência como pilar do
estilo de vida operário, o Oi!
concedeu um ponto
de entrada para uma
nova marca do
rock de extrema-direita. Conforme o Oi! passa
a ser associado
com “música branca”, a
relação entre causa
e efeito foi revertida:
para além de
skinheads adotarem as crenças
direitistas e expressálas
nas músicas, músicos
com crenças direitistas começaram
a adotar a cena skinhead –branca,
masculina, violenta e patriota
–como campo para
se expressarem. Estes
músicos trouxeram novas influências musicais ao
Oi!, criando uma forma
híbrida de “skinhead rock”
que
mantém
sua filiação com a cena muito
depois de ter deixado
qualquer semelhança com o som
“street punk” do
qual o Oi! se desenvolveu.”
Se, por
um lado, parte dos
integrantes destas bandas tentaram
a todo custo
não serem colocadas como
fascistas, seja buscando participar de eventos contra o
racismo ou por meio de artigos
de Bushell na
revista Sounds, fato é que esta
associação foi se tornando
cada vez mais
forte, sobretudo pelas práticas e
valores envolvidos nesta cena.
Embora na maior
parte das vezes
o argumento seja de que tudo isto foi apenas uma deturpação da
mídia, há diversos fatos que estão aí, contados
pelas próprias pessoas que
viveram a época, e que trazem mais uma vez a tona valores conservadores que não
compartilhamos de forma
alguma.
*texto extraido do zine: Porque somos contra a união de Punks com skinheads
Banda anarchxpunx da alemanhã anti oi
letra:
" (...)Foda-se! Foda-se! Foda-se! Foda-se! Foda-se a união! (...)"
" (...) (Seu) o patriotismo é apenas lixo orgulhoso de tudo, eu não me importo!
Que tal uma opinião própria ou será que vocês não se atrevem? (...) "
Que tal uma opinião própria ou será que vocês não se atrevem? (...) "
" (...) Eu não quero festa com você, sua estupidez, eu estou de saco cheio! "